As aventuras do Linito/O atropelamento da carrinha verde
As Aventuras do Linito/Atroplamanto invulgar
Com cinco anos apenas e já não vivendo na casa da Tapada de Vale de Vaz, o Linito que vivia agora em Couchel costumava andar na companhia dos irmãos mais velhos e da avó Adelina lá pelos campos, estradas, caminhos e matas a apascentar as poucas ovelhas e cabras que a familia possuía e levá-las a passear enquanto se alimentavam da erva e arbustos que se criavam libremente.
O pai tinha ficado com autorização de levar o gado a pastar nas terras onde antes tinha sido caseiro embora já lá estivesse instalada outra pessoa que se dedicava à criação de gado leiteiro e precisava de criar condições para montar uma vacaria.
Quando o outro senhor se instalou na casa onde tinha-mos nascido e vivido, precisou de fazer algumas obras de adaptação para a actividade que queria instalar.
As obras lá corriam no seu ritmo normal e o Carlos, um dos seus irmãos mais velhos, já com treze anos andava a trabalhar lá como servente de pedreiro para ganhar uns trocos e dar alguma ajuda nas despesas da casa.
O Linito com os seus cinco anitos queria era brincadeira e mandar pedras à pobres das ovelhas e cabras para as desviar para sitios onde poderiam pastar mais à vontade, mas nas suas correrias descobriu que os figos da figueira já estavam comestíveis.
Estávamos na época dos figos lampos e numa figueira que havia ao fundo do terreno, o Linito e a avó Adelina apanharam meia dúzia de figos para comer na ocasião e então o Linito lembrou-se do irmão que andava do outro lado da estrada a trabalhar na obra.
Agarrou em quatro figos e foi lá presentear o irmão com uma merenda tão expontânea como frugal.
Entregou os figos ao irmão e regressou rapidamente para junto da avó e das ovelhas que tinham ficado no sitio da pastagem.
Todo contente com a façanha de ter ido entregar os quatro figos com que pensava matar a fome ao irmão regressou a correr e nem se lembrou de fazer cuidado ao atravessar a estrada nacional Nº17 entre Coimbra e a Guarda.
Felizmente que aí por 1952 o transito era reduzido e os carros que passavam eram poucos e ou só de vez em quando.
Mas calhou ir nesse preciso momento a passar uma carrinha verde de dois lugares na direcção de Coimbra e o Linito não teve tempo para nada tal era a velocidade com que vinha a correr ao descer a ladeira que separava a casa da berma de estrada.
Podia ter sido atropelado pela parte da frente e podia ter tido consequências graves, mas não foi. Bateu com toda a força que a velocidade lhe deu, contra a parte lateral da carrinha e estatelou-se no chão.
Nada de grave, a não ser o susto mas a verdade é que o homem que vinha a conduzir saiu rapidamente da carrinha, agarrou no Linito ao colo para o acalmar, mas o Linito que chorava que nem um bezerro desmamado, tremia como varas verdes e começou a mijar-se todo pelas pernas abaixo.
Vieram a correr os trabalhadores da obra, veio a correr o irmão, todo assustado, veio a correr a avó já velhota também toda assustada, o que é natural, mas nada se passou.
São estes episódios sem importância que ficam e marcam as lembranças do que aconteceu numa infância já remota.
São estes episódios que ficam, marcam a memória, enraizam-se e permanecem vivos para o resto da vida.