Ajuste de contas
AJUSTES DE CONTAS
Este tipo de trauliteiradas raivosas, ajustes de contas mesquinhos entre gente de baixo estofo moral, deixam sempre um enjoativo cheiro a esgoto.
Um antigo jornalista medíocre e um politicão sem qualidades, o primeiro com evidente fascínio pela espionite e, talvez, leitor de sub-John le Carrés de capa mole, o segundo com uma tendência notória para se rodear do que há de pior na fauna politico-socio-financeira que gravita à volta do Poder, encontram-se. Ambos vêem a política como uma sucessão de golpadas e vilanias, apimentadas por "spin" e "favores" por baixo da mesa. Verem-se, avaliarem-se e concluirem que podem ser úteis um ao outro, foi obra de um momento. Vivem em simbiose até que, pela ordem natural que rege a vida dessa gente, um deles conclua que o outro deixou de ser útil e a inevitável traição acontece.
Veja-se como o ex-amigo do sinistro Cavaco, caído em desgraça depois da inenarrável (e falhada) maquinação das "escutas a Belém", se sujeita a ser tratado "após vinte anos de leal colaboração".
No livro que acaba de cometer, "relata dez anos em Belém: quatro como assessor de imprensa, seis na sombra, enfiado num gabinete do sótão"! Seis anos de "apagamento, definhamento, 'caminho das pedras' " mas durante os quais aceitou o humilhante esconso, sem dizer "água vai", mantendo de Conrado o prudente silêncio, que dinheiro não cai do céu e o emprego não abunda.
Não se tratasse do reptiliano Cavaco Silva, o qual de leão tem pouco, e poder-se-ia citar o apólogo do Leão e do Burro.
Estão bem uns para os outros.