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baú das alembranças

baú das alembranças

Emigrantes

Isto faz-me lembrar coisas.
Faz-me lembrar por exemplo os engajadores portugueses a transportar para França candidatos a emigrantes portugueses na década de sessenta e setenta do sec. XX.
Ainda andei com um que tinha uma Peugeot 504
de sete lugares e transportava dez, doze ou catorze pessoas da região da Beira Alta todas as semanas.
Chegados a França armazenava-os nos barracãos de uma quinta onde ficavam escondidos no sótão durante o tempo necessário até lhes arranjar trabalho na agricultura, nas florestas ou na construção civil e às mulheres nas limpezas. Dormiam em camas dos hospitais compradas usadas na sucata e o o comer era a mulher que fazia um panelão de batatatas ou arroz com carne ou frango tipo jardineira para dez, quinze ou mais pessoas.
Ganhava dinheiro como lixo.
Mas comia à mesa com o Comissário da Polícia local.

 
 

Partiste

Querida irmã, vou tantas vezes a Couchel e tenho sempre uma fezada que vais aparecer a qualquer momento para desenferrujar-mos a língua com um pouco de cavaqueira ou recordar velhas conversas.
Quando passo á tua porta, olho sempre para lá mas não te vejo, sei que já não vens à porta e sinto um vazio enorme dentro de mim.

 
A imagem pode conter: 1 pessoa, closeup e interiores
António Carvalho Gouveia

..um ano passou e continuo em negação.
Penso para mim que tudo não passa de um sonho, dos muitos sem sentido que costumo ter. Mas mais longo, ainda mais sem sen...tido.

A saudade alimenta a esperança de ouvir a tua voz num telefonema.
A ansiedade cresce sempre que penso em "ir aí acima" e poder ver-te.
Só que nada disto é um sonho.
"Acordo", refugio-me na dormência das lembranças, como se de ópio ou outro similar se tratasse e sigo, um dia de cada vez.

365 dias depois, passou-se um Natal, um Dia da Mãe e um aniversário teu.
Não estiveste, mas eu entendo.
Há uma forte razão para isso:
Chama-se vida.
Com tudo o que ela alberga.

Foste tu que me geraste.
Foste tu que te sacrificaste para que eu tivesse direito a enfrentar o mundo.
Foste tu, que mesmo no fim, mostrou o que é ser-se valente.

Foste sem dúvida a mulher mais corajosa que alguma vez conheci.

Um ano passou. E volto a repetir:
Foi um privilégio ser a tua cria mais nova.
Um enorme beijo e o calor de um abraço do tamanho da minha saudade..

Queixas da juventude


 

A imagem pode conter: textoTens toda a razão.
Mas olha que as coisas não mudaram assim tanto.
Eu vim trabalhar para Lisboa há cinquenta anos e já era assim.
Casei há quarenta e três anos e vi-me e desejei-me para arranjar uma casa de acordo com os meus rendimentos.
A minha companheira não tinha emprego e era o meu ordenado de electricista da construção civil que tinha de aguentar as despesas....
Cheguei a pagar de renda de casa quase metade do meu ordenado e isto na periferia.
Em 1985 a empresa em que trabalhava entrou em processo do falênca e eu fiquei sem trabalho e com dois filhos em idade escolar.
Fui á luta.
Dei o corpo ao manifesto e fiz de tudo mas nunca faltou comida na mesa.
Deixei os meus filhos e a minha companheira durante vários períodos e fui fazer contratos de trabalho temporários nos Açores, França, Holanda, Bélgica e Alemanha. Ainda estive para ir ao Zaire, Ucrânia e plataformas de petróleo mas não fui.
Foi difícil mas a vida é mesmo assim para a grande maioria.
Só os previligiados se podem dar ao luxo de as coisas lhes caírem nas mão sem terem de lutar por elas e esses são poucos.
Temos de viver com o que temos mas sem perdermos as forças e lutar para que as coisas vão mudando para melhor.
Vai á luta, tira um curso, especializa-te numa profisão e aprende a tirar partido daquilo que tens.

A descolonização

A descolonização, a mentira e a memória

A reiterada insistência nas mentiras faz com que as vítimas se tornem solidárias com os algozes e acabem a difundi-las, tomando as aparências por realidade.

A direita trauliteira nunca digeriu a independência das colónias, embora saiba que todos os países colonialistas foram derrotados nas guerras de libertação e que não sobreviveu um único império colonial, embora tenham surgido outros colonialismos e impérios. O Portugal da ditadura f...ascista, tão atrasado, foi o último império colonial.

As sólidas amizades, forjadas na guerra colonial, tendem a defender o colonialismo e a aceitar a ilusão de que a guerra estava ganha. Alguns ex-militares absorveram a mentira, incapazes de aceitar que foram combatentes numa guerra inútil, criminosa e condenada ao fracasso. É doloroso aceitar tão penoso sofrimento em tão injusta causa.

Não vale a pena explicar-lhes que a descolonização começou em Dadrá e Nagar-Aveli (1954), na Fortaleza de S. João Batista de Ajudá (1961), que Salazar preferiu incendiada a deixar intacto um testemunho histórico português, Goa, Damão e Diu (1961).

Para que não restem dúvidas sobre a derrota, recorde-se que Portugal só assinou em 26 de agosto de 1974, em Argel, o acordo preliminar com o PAIGC, homologado 4 dias depois, reconhecendo a independência da Guiné e Cabo Verde. Era a situação de facto, proclamada em setembro de 1973, no interior da Guiné, e reconhecida pela ONU. À luz do direito internacional, Portugal tornara-se um país pária a ocupar um país soberano.

Se não fizermos a pedagogia democrática, arriscamo-nos a deixar reescrever a História, ao sabor dos interesses e das mentiras de quem sente a nostalgia do colonialismo.

Há dois aspetos que não é demais salientar, o patriotismo dos oficiais do MFA, a quem se deve o fim da ditadura, e a eficiência das Forças Armadas na retirada, sem uma única baixa, de mais de 100 mil combatentes do teatro de guerra, caso inédito no mundo.

Resta exaltar a solidariedade do povo português a acolher 1 milhão de compatriotas. É motivo de orgulho para o povo que não virou as costas a quem procurou, à semelhança dos que ora fogem da Venezuela, refúgio no país de origem.

De Carlos Esperança com a devida vénia.

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