Aldeia do Monsanto 1993
Há vinte e cinco anos atrás, com a minha mulher e os meus filhos com onze e quinze anos andei a passear pela zona. Monfortinho, Monsanto, Penha Gracia, Catedral Gótica de Proença a Velha, Senhora do Almortão, Gardunha, Estrela, Castelo Branco, Alcãntara, Caceres, etc, etc. A subida ao Castelo de Monsanto ficou famosa. Chegámos cerca da uma hora da tarde à aldeia a pensar-mos almoçar no primeiro restaurante que aparecesse. Népia. Era periodo de férias de Carnaval e as serras estavam cobertas de neve. Com os restaurantes apinhados até à porta não havia hipótese para uma pessoa quanto mais para quatro. Combinamos então visitar a Torre e as Ameias e na vinda para baixo tentar a sorte. Enquanto subíamos fomos considerando a situação falando sobre o assunto. Um indivíduo que estava encostado a uma porta de uma das casas ofereceu-se para nos fazer um almoço que dizia ele nos ia safar de uma tarde de fome. Aceitámos e até agradecemos a disponibilidade. Então o homem, passada cerca de uma hora trouxe-nos para a mesa quatro ovos mal fritos e queimados, muito mal encarados, uma panelinha de sopa que não era mais do que umas couves negras e mal cozidas com uma batata cozida, metade de uma broa de milho ressequida já com mais de uma semana e um jarro pequeno com vinho que eu pensei seriamente que era vinagre para teperar qualquer coisa de tão azedo que estava. Quando nós vimos a repimpada refeição apeteceu-nos fugir do local mas lá comemos os ovos queimados com broa de milho ressequida com mais de uma semana porque a fome é negra, eu bebi ou tentei bebermeio copo de vinho. Então peguntei-lhe o preço daquele almoço de príncepes e o homem disse que eram dois contos, aí então caiu-me tudo aos pés. Ainda estive para lhe pedir factura mas entendi que o culpado tinha sido eu. Ele foi mais um entre tantos daqueles que aproveitam das situações para arranjar uns trocos à conta dos turistas papalvos como eu.