Sabem quem eram os “rebeldes” sírios em Aleppo?”, pergunta a jornalista Rania Khalek? “Não são apenas os “rebeldes sírios”, como os media ocidentais os descrevem habitualmente. Eram a Brigada Al Nusra, basicamente um ramo da Al Qaeda. Ou pertenciam ao “Ahrar al Sham”, “jihadistas” violentos financiados pelo Qatar, que mataram membros de minorias étnicas ou religiosas ou os usaram como escudos humanos. Algumas das atrocidades cometidas por estes grupos provocariam arrepios na espinha. Não estou a inventar nada. Em Aleppo, esta gente tinha tribunais regidos pela Sharia, onde sentenciavam pessoas à morte por banalidades. Executavam civis sumariamente. É verdade que, na Síria, emergiram a partir de 2011 vários movimentos que apelavam por mais democracia, mas outros tinham ideias bem diferentes. Em Aleppo a maior parte da população esteve sempre com o governo sírio, até serem invadidos por estes grupos, armados até aos dentes pela Turquia, em 2012. Começaram a controlar todos os bairros da cidade, e as zonas que se mantinham fiéis ao regime sírio eram castigadas por eles. Cortavam o abastecimento de água e comida. Era um pesadelo, como vos dirão muitas pessoas na cidade. Os principais media mundiais não queriam saber disto, porque estes grupos eram apoiados pelos Estados Unidos. Estes “rebeldes” de Aleppo não eram muito diferentes do Estado Islâmico, que ainda controla Mosul. Seguiam a mesma ideologia “jihadista”. Agora estão a perder terreno porque o seu principal financiador e mentor, a Turquia, deixou de os apoiar através da fronteira. E é por isso que surgiram agora estas histórias inventadas de mulheres e crianças a ser massacradas, mulheres a serem violadas ou a suicidarem-se para não cair nas mãos do exército sírio. Histórias cuja veracidade ninguém pôde confirmar. É verdade que o governo sírio cometeu atrocidades, mas os rebeldes também cometeram. Muita gente está morta. As pessoas estão exaustas. Sentem-se apenas felizes por isto ter acabado. Foi isso que senti quando estive em Aleppo. As pessoas celebravam, como celebravam nas zonas libertadas do ISIS, depois de todo o horror. Não percebo como acusam estes civis que celebram a libertação da sua cidade de serem traidores ao seu próprio povo, apoiantes de Assad. Como se fossem como aqueles israelitas que celebravam na rua o bombardeamento de Gaza. Não, não estavam a celebrar o bombardeamento de Aleppo. Celebravam o fim do pesadelo”. Rania Khalek é uma jornalista independente baseada nos EUA. Escreve regularmente para “The Nation”, Al Jazeera America e foi editora da “Electronic Intifada”. Este texto pode ser lido aqui: https://shadowproof.com/…/rania-syria-media-rebels-whitewa…/. A sua página no Tweeter: https://twitter.com/raniakhalek
É verdade que grande parte dos políticos profissionais tudo fizeram para denegrir a politica e levar a que a sua discussão passasse a ser uma coisa mal vista e por vezes até desagradável.
isto é o que essencialmente se ensina e se aprende nas universidades de verão e também não sendo só de verão são universidade ao serviço das elites partidarias como a universidade católica, uma autentica madrassa em nada diferente das escolas que recitam o Corao dia e noite. Vem isto a propósito de recentemente num debate/conversa pessoal entre amigos se estivesse a falar de civismo ou a falta dele quando pessoas nas cidades e nas vilas tem contentores do lixo e ecopontos a escassas dezenas de metros e deixam propositadamente o lixo no passeio em sacos de plástico à espera que os outros arrumem e eis senão quando um "jovem" de cerca de quarenta anos líder da juventude concelhia "cabecinha pensadora portanto" de um partido político expõe a sua opinião mostrando-se incomodado porque segundo ele as pessoas colocam no ecoponto as garrafas e outras embalagens de plástico sem as esmagar e ocupando assim mais espaço.
Vamos mesmo no mau caminho quando homens de quarenta anos são presidentes da juventude concelhia de partidos com assento parlamentar e vamos mesmo por muito mau caminho quando pessoas com responsabilidades politicas tem como única preocupação ambiental o facto de as pessoas não esmagarem as embalagens quando as colocam no ecoponto. E mais não digo. Vou ver como é que está lá o tempo, quero emigrar pra as ilhas Maurícias ou Reunião. Que sa lixe esta merda. Alguém quer ir?
191 – Memórias de um soldado em Angola (Ed. Verso da História)
Este fim de semana li o livro em epígrafe, amável oferta do autor, Onofre Varela, o ‘soldado condutor autorrodas 191’ [condutor, para quem ignore a qualificação militar] na guerra colonial em Angola, desde dezembro de 1965 a fevereiro de 1968.
Escrito sem azedume por quem lavou latrinas, serviu à mesa, foi agredido pelo sargento Ginja, e começou a tropa com vários dias de prisão e saiu louvado, um misto de ‘O bom soldado Shweik’, sem a negrura do seu humor, e do pacifista Mahatma Gandhi, sem ter libertado a pátria, conta de forma perspicaz o que na literatura de guerra era omisso.
Deve ter voltado no barco em que, logo a seguir, segui a caminho de Moçambique para a mesma guerra inútil, depois de ter percorrido os mesmos quartéis antes do embarque.
Onofre Varela, cartunista, escritor e jornalista, teve a arte de contar o que todos viram e só ele se lembrou de contar. E conta-o como se não tivesse sido vítima, como se o crime de ser português merecesse tão dura pena, com a mesma elegância com que respondia à agressão do sargento Ginja com um desenho e a cada humilhação como novo desenho.
É a excelente narrativa de um homem generoso, capaz de contar como quem conversa e de trazer a público factos que mais parecem de quem foi incumbido de fazer a ata e não de quem os viveu na base de uma irrefutável pirâmide hierárquica na mais negra história da vida da nossa geração.
É um excelente catártico, divertido na pungência das situações vividas, capaz de evitar os suicídios que ainda acontecem a quem viu morrer camaradas do lado errado e matar guerrilheiros do lado certo, certo de que vale a pena viver esta vida única e irrepetível.
Permito-me recomendar 286 páginas de um testemunho pessoal onde cada combatente encontra um retalho da sua odisseia do filme cujo guião foi escrito pela ditadura e as suas circunstâncias.
(Dado que já está disponível nas livrarias, interrompo hoje as crónicas de fim-de-semana que o livro encerra)
Na mitologia grega Anteu necessitava de mergulhar as mãos na terra para recuperar as forças. Eu, que não sou deus, nem crente, sinto a necessidade dos mitos. E vou procurar nos sítios que agonizam o resto de vida que ali jaz, e encontrar no húmus das minhas origens as forças de que careço.
Abalámos muitos dessas terras, que eram viveiros de gente e são hoje a antecâmara da morte dos que regressam para ficar.
Já não se discute a água da presa, com a sachola, nem se guardam alfaias religiosas com a escopeta carregada e a navalha, de ponta em mola, à mão. A fé esvaiu-se, não se mede em decibéis, oferendas ou novenas, nem em quantidade de dias de exposição do Senhor.
Em tempos, quando o estandarte da igreja dormia nas fragas que separavam o Freixinho do Lamegal, a anexa que disputava à sede de freguesia a glória de exibir o seu pendão para proteger as searas, com moços possantes a defenderem a crença e o estandarte, que os costumes mandavam revezar, e que o impulso da fé desrespeitava, eram as procissões que tinham primazia sobre as outras manifestações litúrgicas. Hoje falo do concelho de Pinhel e podia falar do Sabugal, Almeida ou Figueira de Castelo Rodrigo, terras de onde guarda memória o menino que se fez velho.
O meu tio Manuelzinho contava-me coisas de estarrecer, quando a fé ainda vicejava nas aldeias e os padres abundavam para a liturgia. Não mais esquecerei a graça com que me contava a procissão do Carvalhal da Atalaia, que acabou mal. Os andores, os devotos e a fé não cabiam nos limites do casario. Era preciso percorrer caminhos de terra batida, na peregrinação cuja distância correspondesse à piedade dos paroquianos.
Foi num mês de agosto, ainda não havia francos franceses, suíços e marcos a desafiar a competição dos emigrantes. A procissão saiu do povoado para a ronda tradicional do Senhor dos Passos, com o padre sob o pálio, a resguardar a tonsura e a custódia, com os mordomos aprumados e os fiéis em filas, separados por género e alinhados por idades. Rezas e cânticos alternavam com algum latim para fazer brilhar o pároco enquanto os anjinhos eram admoestados para não falarem, pelas catequistas que os guardavam.
Num desses verões, já a procissão tinha invertido a marcha a caminho da aldeia quando, inopinadamente, se armou uma trovoada que parecia o dilúvio, sem a arca de Noé, para se recolherem nela os bons, enquanto a terra se inundava.
Os mancebos pousaram o Senhor dos Passos, enquanto os andores pequenos seguiram o exemplo, e os guiões foram encostados à árvore mais próxima. O padre, com a custódia, fugiu e manteve a proteção do pálio, com os que empunhavam as varas a esticar o pano, transformado em guarda-chuva coletivo. Os anjinhos, na pressa, perdiam as asas e cada paroquiano procurava uma árvore de copa ampla, com a população dispersa pelo campo e a parafernália pia abandonada no caminho.
Já se clamava «milagre!» quando o sol, de repente, substituiu de novo a chuva que se afastou a desgraçar videiras e a tornar inútil a vindima. Os paroquianos lá voltaram ao sítio donde fugiram e, ao chegarem, o horror deixou-os apopléticos.
Com a chuva esboroou-se o Senhor dos Passos que alguns fiéis haviam de julgar sólido, quiçá com músculos e ossos, desfeita a farpela puída pelo tempo, onde o manto refulgia. Do interior saiu a palha que lhe dava forma e uma burra, atraída pelo cheiro, mastigava, com os cascos sobre o manto e a pachorra de quem nasceu sem entendimento para a fé.
Descoroçoados, atiraram pedras ao animal, que insistia em mastigar a palha tantas vezes benzida. Com tal sanha, que, da multidão, uma mulher implorou, por amor de Deus, que não lhe matassem a burra, enquanto esta se afastava a trote, a mastigar o último naco do Senhor dos Passos.
Mais um aniversário, mais uma homenagem, mais uma forma de a direita revanchista recordar o passado.
Sempre o passado!...
Nem sequer é história...
Constantemente vê-se ou ouve-se gente a cantar loas a Sá Carneiro e Amaro da Costa, como se existisse alguma coisa visível ou palpável da obra de Sá Carneiro e Amaro da Costa.
Sá Carneiro e Amaro da Costa, foram com outros advogados bem instalados na vida fundadores e dirigentes da AD, organização ess que com tão bons alicerces que morreu logo a seguir.
Sá Carneiro e Amaro da Costa eram oriundos da União Nacional e foram deputados da Assembleia Nacional no tempo de Marcelo Caetano, portanto no tempo da ditadura, o que quer dizer que eram da mesma cor politica, senão nunca teriam entrado no círculo e não vejo muito bem o que é que eles tenha feito neste país que os tenho levado à idolatração ao ponto de quase virem a ser beatificados.
Se Sá Carneiro e Amaro da Costa fossem vivos ainda hoje, não seriam diferentes de Pinto Balsemão, uma vez que confessavam os mesmos ideiais politico-partidários que os levou com Miguel Veiga, Montalvão Machado e a formar o Partido Popular Democrático "PPD".
Sá Carneiro, foi 1º Ministro de Portugal durante onze meses.
Sá Carneiro e Amaro da Costa foram homens politicos iguais a tantos outros, mas no dia 4 de Dezembro de 1980 passaram de homens politicos a santos sem motivo nenhum aparente a não ser a sua própria morte.
Sá Carneiro foi por acaso um homem tão íntegro e tão cristão, oriundo da alta burguesia portuense que não hesitou em abandonar a mulher e os quatro filhos ainda jovens para se juntar a outra mulher e refazer a vida junto dela.
Onde é que está a grandiozidade deste homem tão idolatrado até quase à beatificação?
Sá Carneiro e Amaro da Costa só foram conhecidos e tornaram-se nos mitos que são, mercê de uma poderosa e carísima máquina pubicitária que no ano de 1980 arrasou politicamente tudo quanto se atravessou na frente levando portugal a ser governado de novo por um partido único como tinha sido até 25 de Abril de 1974.
Agora, se fazem favor, digam-me quais foram as medidas ou obras que Sá Carneiro e Amaro da Costa deixaram implantadas neste país. Sejam quais forem, digam-me uma lei, uma medida ou uma obra que Sá Carneiro e Amaro da Costa tenha implantado e que tenha deixado visibilidade quer no campo político, económico, cultural, social ou judicial.