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baú das alembranças

baú das alembranças

Ainda a CGD

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Ainda e sempre a merda do assunto da CGD.
Há demasiada conversa fiada à volta de um assunto que de lana caprina se tornou falatório nacional. Só me admirou mesmo foi a esquerda dita bem pensante se ter aliado à direita neste forrobodó.
E com todo este rebeubeubeu, se andou a perder tempo inutilmente para nada quando a situação já podia estar resolvida há muito tempo.
O homem mostrou ser competente, e segundo parece é competente, apresentou um plano que foi aceite em Bruxelas, punha-se o plano a funcionar e resolvia-se depois a situação da legalidade ou não da apresentação da declaração de rendimentos.
Mas não, a direita descobriu uma brecha e explorou a brecha até deitar molho, explorou o molho até secar e o pior ainda é que uma certa esquerda dita culta e bem pensante foi no embróglio.
Merda para isto. Porra 
Estou farto.
Estou farto desta direita bacoca, retrógada, estúpida, bruta, mal educada, mal formada e mal intencionada estou farto desta esquerda que se deixa ir em embrulhos e rodriguinhos sem medir as consequências da sua revindicaçõezinhas de merda, se fosse mais novo ia-me embora deste país, Iá para o Uganda tratar as feridas aos gorilas, ou Madagáscar tratar dos outros bichinhos.

CARLOS ESPERANÇA

Já copeiam, já devedem, o pior são os ivões _ Crónica

Alguém me contou que Carvalhão Duarte, o corajoso jornalista que foi diretor do jornal República e empenhado antifascista, foi um dia recebido por Salazar na qualidade de presidente do organismo de classe dos professores primários, profissão de que viria a ser demitido por motivos políticos.

Carvalhão Duarte queixou-se de que os vencimentos dos professores não correspondiam à categoria profissional, ao que o ditador respondeu que, não podendo elevar os salários ao nível da categoria dos reivindicantes, faria com que a categoria viesse a corresponder aos vencimentos que auferiam.

Não surpreende que possa ter acontecido, pois o encerramento das Escolas Normais e a criação dos Postos Escolares e respetivas Regentes, a quem bastavam quatro anos de escolaridade, correspondeu ao desprezo que a instrução lhe mereceu. Deve-se à ditadura o retrocesso escolar de quem temia a cultura e a julgava prejudicial à doutrina cristã e ao cuidado das almas de que Cerejeira se encarregou.

Os anos 30 do século XX foram de uma enorme regressão na formação dos professores e nas importantes inovações da I República, tragédia que só seria alterada na agonia do regime fascista, com Veiga Simão, no consulado marcelista.

O ensino obrigatório era, no meu tempo de escola, a 4.ª classe para rapazes e a 3.ª para meninas. Recordo a minha mãe a entrar nas casas das pessoas da aldeia, a dizer às mães que já lhes tinha matriculado as filhas na 4.ª classe, senhora professora não me faça isso, faz-me falta para criar os irmãos, é uma boa aluna merece ir mais além, quem me fica com os outros filhos quando tenho de ir para a horta, a professora a submeter a mãe da menina que gostava da escola, a mãe a lamuriar-se, e a professora a conseguir mais um ano de escolaridade para a menina que não podia ser criança, e para quem a 4.ª classe era considerada supérflua.

Em 1963, as regentes ganhavam 600$00 mensais, vencimento igual para as agregadas e as efetivas, tendo estas direito a 12 meses de vencimento anual e as outras a 9 meses e 14 dias. Para se ter ideia da exploração e miséria a que eram condenadas, vale a pena recordar os salários miseráveis dos funcionários públicos, em geral, e os dos professores primários, em particular: 1.600$00, agregados; 1750$00, efetivos; e 2.000$00, 2200$00 e 2.400$00, após 10, 20 e 30 anos de serviço, respetivamente (vencimentos brutos).

Em 1963, quando, por ser o único professor, fui nomeado Delegado Escolar, encontrei 16 regentes escolares no concelho, todas mulheres, em pequenas aldeias. Sem elas, muitas crianças ficariam desobrigadas da escola, porque a residência a mais de 3 km era motivo legal para isentar as crianças da frequência escolar.

Contrariamente às anedotas e humilhações a que a condição as submetia, devemos-lhes a alfabetização de muitas crianças que, doutro modo, não teriam oportunidade de, mais tarde, obter um passaporte e emigrarem, para fugirem à fome e à miséria a que estavam condenadas.

As regentes eram frequentemente ridicularizadas pela escassez de habilitações literárias e rudimentares conhecimentos, objeto de anedotas, tantas vezes injustas, quase sempre racistas, e da arrogância de professores que presidiam às provas de passagem dos seus alunos.

Era vulgar atribuir-lhes redações de ofícios onde a sintaxe e a ortografia abalavam os mais rudimentares alicerces da ortodoxia gramatical. Apareciam datilografados e eram divulgados para gáudio de quem tinha aprendido um pouco mais e subido na hierarquia rígida da função pública.

Havia muitas histórias atribuídas a regentes, que, com a miséria do vencimento, sofriam o sarcasmo de quem se julgava superior. É dessa indigência, do quotidiano repisado de «um país em “inho”» que aqui deixo a suposta afirmação de uma regente para o inspetor que a visitou: «os alunos já copeiam, já devedem, o pior são os ivões...», [3 vezes 8, 24, ‘e vão’ 2; 9 vezes 8, 72, ‘e vão’ 7], malditos ‘ivões’, a conjunção e a conjugação do presente do indicativo do verbo “ir”, a tornarem-se o plural de um absurdo substantivo.

A história da minha guerra.

A minha guerra.

Passava por mim a grande velocidade o ano de 1967 e eu já com 20 anos no pêlo, fui obrigado pelo sistema politico de então a dar o nome para ser referendado e constar da lista dos gajos que estavam bons ou disponíveis para dar o coiro pelo  país, pela Pátria ou fosse lá pelo que raio fosse. Era preciso é que estivesse bom para matar ou morrer.

Neste caso era mais para dar o coiro para salvar o coiro de outros filhos da puta que viviam nas suas torres de oiro e nos seus castelos de diamantes.

Fosse como fosse, o que tem que ser tem muita força e como eu não tinha força nenhuma tive de gramar a pastiha e tive de ir dar o corpo ao manifesto.

Tendo dado o nome em 1967, fui chamado em 1968 par passar por uma inspecção como se faz aos cavalos e para me ver se tem dentes bons e patas sólidas e para me dizerem que estava bom tanto para matar como para morrer, mas que era muito melhor para morrer. Era magrinho e não muito alto, ou passava pelo intervalo das balas ou morria ao primeiro sopro de uma. Tanto fazia.

Mandaram-me para Aveiro onde me instalei no dia 22 de Outubro de 1968 num convento ou outra coisa qualquer e onde me iriam fazer permanecer oito semanas a correr para trás e para diante sem eu alguma vez saber onde é que iamos parar e a verdade é que nunca fui ter a lado nenhum.

Normalmente durante estas oito semanas eramos preparados, manipulados e manobrados psicológicamente para termos a ideia fixa de que o que estavamos a fazer era o melhor para o nosso país, para nós e para a  nossa família, e eramos constantemente injectados com retórica a favor da guerra, e que nós é que eramos os bons e os outros eram os maus.

Não quero, não posso nem devo com esta pequena crónica  tentar escamotear o que foi a guerra pela libertação nas antigas Colónias nem quero deixar de lembrar o sofrimento que esta causou a centenas  de milhares de homens e mulheres deste país nem dos outros países nela envolvidos.

Tal como dizia, fiz a recruta preparação fisica, psiquica e intelectual durante oito semanas em Aveiro e estava preparado para no fim desta ser despachado para uma zona de combate com acontecia a mais de 90% dos meus camaradas.

Quis o destino, que é uma das poucas coisas em que ainda acredito, já que não tinha amigos ou conhecidos de alta patente no meio militar e nem no meio civil, que no fim da recruta me tivessem dado a especialidade de caixeiro.

Talvez porque constava no meu curriculum que tinha sido marçano dos doze até aos dezoito anos, mas não tenho a certeza se teria sido o motivo.

E assim terminada a recruta sou enviado para  escola prática da Administração Militar em Lisboa para frequentar o curso de caixeiro e consequentemente a escola de cabos que durou mais oito semanas, terminando no fim de Fevereiro de 1969.

Pensei para comigo.

Meu filho, desta já te safaste, não vais andar aos tiros e eventualmente não vais morrer mas também não vais matar ninguém na guerra. Um caixeiro serve normalment para estar cá atrás a enviar comida e para os outros e zelar para que esses outros tenham  minimo dos minimos.

Embora tivesse sido informado que o meu destino já estava traçado, ninguém sabia para onde iria ser enviado nem quando. Ficaria em stand by e colocado em Santa Margarida da Coutada, Tancos, a fazer serviço à linha. « Guarda á Polícia, guarda ao paiol, guarda à prisão, Piquete e segurança noturna» e assim foram passados mais três meses.

Estavamos em junho  e na altura que estava deslocado no meio do mato a fazer guarda à carreira de tiro, veio um sargento buscar-me num jeep para ir tratar  das minhas coisas, entregar o que havia para entregar e pôr-me a andar para casa, gozar férias porque tinha chegado a minha hora de embarque para África.

Fui par casa dos meus pais que como é lógico ficaram com o coração nas mãos e preparei-me para gozar os dez dias de férias de lei antes de embarcar.

Não fiquei dez dias, fiquei mais, recebi um telegrama para me apresentar a 18 de julho no Quartel General de Adidos em Lisboa para levantar o equipamento e embarcar a 22 no paquete Principe Perfeito com destino à Zona Militar de Moçambique, Lourenço Marques.

Não embarquei no paquete Principe Perfeito a 22 mas embarquei no Paquete Infante D. Henrique no dia 3 de Agosto de 1969.

Vigem turistica maravilhosa a bordo de um paquete de cruzeiro com escala na Madeira, Lobito, Luanda, Cape Town, Port Elizabeth e Lourenço Marques  com piscinas, cinemas, salão de jogo e de baile e sobretudo miúdas.

Destino: Manutenção Militar de Lourenço Marques destacamento do Bairro do Jardim Zoológico, a meia dúzia de quilómetros da cidade. 

Serviço: uma verdadeira trabalheira.

Sob as ordens de um tenente quase com idade para ser meu avô, organizar a segurança e vigilância dos armazéns onde eram depositadas os milhares de toneladas de géneros alimentícios que chegavam de Portugal e de outros países amigos nos barcos e que depois a partir daí seriam enviados para todas as unidades que se encontravam espalhadas por todo o território desde o Moncimboa ao Rovuma com é costume dizer-se.

E pronto.

Chegado aqui, fiquei por Lourenço Marques, hoje Maputo, cerca de vinte e seis meses.

Vinte e seis meses de doce remanso e dolce far niente mas que me exigia estar atento à segurança e ter às minhas ordens doze homens para fazer essa mesma segurança.

Não havia serviço de escala nem tal era necesário.

Eramos  doze soldados e dois cabos que devidiamos as guardas a nosso bel prazer e se um precisava de ir à cidade ou queria laurear a pevide o outro ficava a substituí-lo.

Assim fiquei pela cidade e como tinha muito tempo disponível aproveitei para me matricular numa escola e fazer o 1º e 2º ciclo do liceu que agora equivale ao nono ano. 

Os dois anos e dois meses na cidade passaram-se da melhor maneira possível, com a calma possvel e com o que permitiam os novecentos e trinta escudos mensais do ordenado de 1º cabo.

Lourenço Marques, era já nessa época uma cidade bastante cosmopolita e muito bem arquitectada. 

Pelos salões da cidade passávamos as noites do sábado nas soirés e a tardes de domingo nas matinés dançantes.

Não havia espaço  para corridas de grande fôlego porque para além de sermos mais conhecidos que Jesus Cristo, toda a gente sabia que eramos militares e o respeitinho é muito bonito, o dinheiro também era pouco embora esse não fosse problema porque nos salões pagava-se uma entrada simbólica,  mas eramos constantemente coagidos a participar em sorteios ou leilões para angariação de fundos. 

Ruas e avenidas todas em linha recta, largas, paralelas e perpendiculares, onda na parte mais antiga pululavam esplanadas, cabarés, bares e clubes nocturnos sempre à pinha com turistas brancos sul- africanos e rodesianos que iam à procura do divertimento que lhes era proibido na sua terra por causa da lei do Apartheid.

Por vezes, sabendo eles também que eramos militares, convidavam-nos para as suas mesas e saíamos de lá já bem aviados com a ceveja e o wisky a rodarem.

Como quase sempre andavamos fardados, e mesmo que  não andassemos não passavamos despercebidos a Polícia Militar não nos passava cartão e muitas vezes fechava os olhos e também porque o nosso possicionamento na manutenção nos colocava em situação privilégiada, já que quase todos os dias as patrulhas da PM em serviço, passavam por volta das três da manhã pela manutenção abriamos o portão para esconder o Rover e tinham sempre uma lata de conserva , uma salada, um pão do tipo saloio e um copo de vinho para aguentar a ronda até de manhã e como se costuma dizer, uma mão lava a outra e as duas lavam a cara.

Houve ainda tempo para dar alguns passeios e fazer algumas saídas ao exterior, como foi uma sardinhada assada no carvão na magnifica praia do Bilene, uns passeios sem grande interesse a Ressano Garcia, posto fonteiriço com a África do Sul, à Manhiça ou à Matola, pequenas cidades situadas a pouco mais de uma hora e Lourenço Marques.

Poder-se-há dizer que se não disparei um tiro não faço a minima ideia do que se passava nas frentes de combate, mas faço.

O comandante da Manutenção onde eu me encontrava tinha um filho militar no QG Quartel General, prestes a terminar o serviço e então para o filho ser demobilizado fez um pacto com o comandate do QG e eu fui substituir o menino.

Lembra-se Arrobas da Silva?

Passei assim mais de três meses na Secretaria do QG a despachar correspondência, a receber correio, ou a dar informações sobre o paradeiro da malta que andava lá para cima e que se esquecia de avisar os pais que como é lógico andavam com o coração partido quando não tinham noticias dos filhos.

Eu ía aos ficheiros saber onde estavam colocados, contactava os comandantes via rádio  e enviava uma contrafé a obrigá-los a entrarem em contacto com a família, sob pena de castigo.

Também tinha acesso a correspondência confidencial entre comandos e sabia dos encontros imidiatos com o inimigo e das baixas tanto de um lado como do outro assim como do material apreendido ou perdido.

Tinha também como tarefa, servir de escrivão aos advogados militares na elaboração de processos.

Cabrões entenderam que eu tinha uma caligrafia bonita e lixaram-me a vida.

Regrsso e desmobilização a 23 de Otubro de 1971 no navio Pátria, já com muitp menos qualidade e com um encontro com uma forte tempestade maritima ao passar o Cabo da Boa Esperança.

Foi duro. Foram quase dois dias a levar porrada com ondas de mais de dez metros e que nos faziam andar em bolandas no convés ou no salão do barco.

Cheguei a Lisboa no dia 20 de outubro de 1971 e fiquei hospedado uma noite no Quartel Geral de Adidos na Ajuda e disputar com os percevejos um espaçozinho para dormirmos se interferir uns com os outros , mas eles venceram pelo número e não me deixaram pregar olho.

Logo pela manhã e após ter tomado um pequeno almoço ligeirinho por causa da dieta, entreguei tudo o que me tinha sobrado de dois anos em África e embarquei para  a minha aldeia sem avisar ninguém da minha chegada.

Como tinha saído de Maputo com bastante calor nem me lembrei de quecá já era outono e já tinha começado o frio.

Cheguei à aldeia cerca das dez da noite com uma camisinha casca de ovo e a tremer de frio.  

Não tinha à minha espera a fanfarra mas não me posso admirar porque nã avisei. 

Rapidamente a minha mãe, o meu pai e os meus irmão mais novos se abraçaram a mim a chorar de alegria por me ver chegar são e salvo mas ao mesmo tempo de uma enorme tristeza porque havia pouco mais de dois meses que tinha morrido de doença prolongada o meu irmão  mais novo que eu e que ia fazer 21 anos daí por um mês.

Foram momentos de grande consternação que se viveram naquele momento mas passados alguns minutos começaram a chegar vizinhos e amigos para me darem as boas vindas.

Estava também o meu irmão mais velho que nesta altura já se encontrava emigrado em França mas que veio à terra var estar uns dias com a afamilia e prstar algum apoio. 

  

 

 

Cobras

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 A cobra é um animal como outro qualquer. 

Tem o seu espaço na natureza e devemos respeitar isso.
Há cerca de dois anos, em pleno verão estava na aldeia e ao mexer numas sucatas encontrei duas gémeas amarelas com cerca de 0,70 mt.
Uma fugiu, mas a outra agarrei-a e tive-a na mão completamente indefesa. Podia tê-la matado, ou podia tê-la guardado, mas libertei-a para ir à sua vida e fiquei bem comigo mesmo.
Outra vez andava a passear pelo campo e ao passar numa vereda estreita com um muro lateral ouvi um ruído que me levou a parar para ver qual era a sua origem .
Reparei então numa cobra castanha escura enrolada em cima do muro a olhar para mim.
Fiquei a olhar para ela durante um bocado e ela desenrolou-se calmamente e foi refugiar-se num buraco que era certamente o seu ninho.
Esta era bem maior que as amarelas.
Tinha seguramente mais de 1,50 mt e um diâmetro praticamente igual ao meu pulso.
Eu ia armado com uma sachola e podia facilmente tê-la liquidado mas entendi que tendo eu passado ao pé dela e ela ter-me ignorado porque razão iria eu interferir com a sua vida.
Ah! O ruído que ouvi foi o silvo provocado pela sua língua ao cheirar o ar para ver se o que vai a passar é inofensivo e comestível ou não.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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