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baú das alembranças

baú das alembranças

O Parasita II

Isto podia ser encarado como a maior anedota do século ou do milénio se não fosse mesmo uma coisa triste.
Assim é mais um episódio triste de uma cadeia de negócios sujos e burlas criadas por este facínora com a aliança a governos de direita.
Meteu milhões ao bolso com os negócias das águas burlou o estado e meteu ao bolso mais milhões com os negócios sujos das urbanizações no monte das oliveiras em Aljezur.
Meteu milhões ao bolso com o saque dos financiamentos da CEE para criar a fabrica de cerveja Cintra que começou por não pagar aos empreiteiros mesmo já tendo recebido os financiamentos e agora ainda lhe dão autorização para explorar petróleo no Algarve?
Então não se vê que ele quer é ter a concessão dos terrenos por 40 anos para que quem quiser desenvolver um projecto, seja urbanistico, agrícola, piscícola ou florestal tenha de lhe alugar os terrenos a ele?
Primeira bola a sair do saco, fazer furos para ninguém mais lá meter o pé
Este gajo é um escroque do piorio e toda a gente o sabe menos a canalhada de pafiosos que governou este país durante quatro anos e meio.
A partir de agora, nenhum agricultor, empreiteiro, ou floricultor tem o direito de fazer um furo para prospecção de água no Algarve, mas ainda ninguém se apercebeu disso.

 

Cintra

Isto podia ser encarado como a maior anedota do século ou do milénio se não fosse mesmo uma coisa triste.
Assim é mais um episódio triste de uma cadeia de negócios sujos e burlas criadas por este facínora com a aliança a governos de direita.
Meteu milhões ao bolso com os negócias das águas burlou o estado e meteu ao bolso mais milhões com os negócios sujos das urbanizações no Monte das Oliveiras em Aljezur.
Meteu milhões ao bolso com o saque dos financiamentos da CEE para criar a fabrica de cerveja Cintra que começou por não pagar ao empreiteiros mesmo já tendo recebido os financiamentos e agora ainda lhe dão autorização para explorar petróleo no Algarve?
Então não se vê que ele quer é ter a concessão dos terrenos para que quem quiser fazer um projecto agrícola tenha de lhe alugar os terrenos a ele?
Primeira bola a sair do saco, fazer furos para ninguém mais lá meter o pé
Este gajo é um escroque do piorio e toda a gente o sabe menos a canalha que fez parte de um governo de mafiosos durante quatro anos e meio.

O vasculho.

Isto uma merda.
Há para aí um gajo, intelectual da treta, que se chama Vasco Valente Correia Guedes, extremamente coerente consigo próprio que não só muda de nome porque lhe apetece como também muda de opção politica para onde lhe dá mais jeito. Filho e familiar de intelectuais de esquerda, foi anti salazarista, anti marcelista e anti União Nacional convicto.
Estudou nos melhores colégios de Cascais e nas melhores universidades de inglaterra e a seguir à revolução de Abril, qual barata tonta andou a navegar de partido para partido a experimentar qual seria o melhor poleiro.
Foi minisitro de Sá Carneiro e apoiante de Mário Soares às presidenciais.
Até na UDP se inscreveu.
Só não sei se por acaso não foi bater à porta da Soeiro Pereira Gomes e não o deixaram entrar tendo em conta a sua estabilidade intelectual.
Isto é tipico de uma pessoa de ideias fixas, consciente e que sabe bem o que quer.
O Vasculho, escreve em tudo por onde passa e diz mal de tudo e de todos.
Insulta o Ministro da Cultura e insulta qualquer pessoa ou instituição a seu bel prazer porque a liberdade de expressão dá-lhe esse direito, mas quando o ministro da Cultura escreve em resposta que já lhe tinha feito uma promessa em 2012 quando era um cidadão comum, cai o Carmo e a Trindade, porque o escriva tem direito à liberdade de expressão mas o ministro não tem.
Vá lá o simples mortal perceber isto!...
Isto ainda é mais difícil de perceber quando num passado recente, o marido da ex-Ministra das Finanças que ao fim e ao cabo também é uma figura pública, escreve uma carta no facebook a ameaçar com uma carga de porrada um amigo jornalista se ele escrevesse mais uma palavra acerca da mulher e ninguém diz nada.
Também é dificil de perceber quando um chefe da polícia destacado na segurança pessoal de Passos Coelho dá em directo um murro na cara de um operador de câmara e ninguém diz nada como se fosse absolutamente normal, mas quando é um ministro do PS, valha-nos deus que o mundo está perdido.
Toda a gente se cala quando um bardamerda de um deputado do PSD chama peste grisalha e estorvo aos idosos, ou quando outro deputado do CDS diz que o que se devia fazer aos refugiados era abalroar os barcos e afogá-los e abater a tiro os que escapassem, mas toda gente fala quando um ministro do PS diz que aeroporto na margem sul, "jamais"

Carlos Esperança

Emigração (Conto) – Texto de fim-de-semana (5643 carateres)

Delfina de Jesus e Simão Borrego casaram muito novos, no início da década de sessenta. Tinha ela acabado de fazer 18 anos e ele 19. E não foi por haver mouro na costa, que é como quem diz ir ela já prenhe, infâmia de solteira que na aldeia o matrimónio lava ou as facadas de pai ou irmão reparam. Nada disso. Mas também não mereceria o ramo de laranjeira com que se apresentou na Igreja, descaramento murmurado por mulheres vigilantes e amigos do noivo que várias vezes viram desaparecer o casal por trás dumas fragas, enquanto eles se entregavam à prática do pecado solitário, ignorando os riscos da cegueira e da tuberculose com que o Senhor Padre repetidamente os prevenia na confissão e nas homilias.

Nunca se atreveram a aproximar-se pois sabiam da perícia com que Simão punha uma pedra no sítio que pretendia, corno de cabra rebelde incluído, perícia de pastor que os mantinha em respeito, e limitavam-se a imaginar primícias saboreadas, corpos que se fundiam em êxtase, prazeres fantasiados, gozos por fruir.

As moçoilas da idade de Delfina compartilharam com ela muitas conversas sobre o namoro que os pais de ambos toleravam. Deviam saber coisas que as raparigas guardavam e de que os rapazes se gabavam ou ansiavam por conhecer. Talvez por isso a invejavam tanto sem a imitar.

Temiam o pecado que lhes perderia a alma, receavam a prenhez que lhes complicaria a vida, adivinhavam a desgraça que lhes enlamearia a honra, imaginavam a pancada com que o pai ou um irmão lhes partiria os ossos. E assim iam resistindo aos olhares incandescentes, às palavras sussurradas, aos convites suspeitos, aos apelos alheios ou ânsias próprias. Até ao dia em que a natureza e as circunstâncias falassem mais alto. Até um dia.

Poucos meses depois do casamento começou Simão a cismar na guerra de África para onde, segundo o Senhor Padre, os nossos jovens iam defender a Pátria e a civilização cristã, combater o comunismo e o terrorismo, coisas de que ele pouco sabia e que o privariam da mulher com quem tanto folgava e a quem se afeiçoara.

Em letras pequenas vira no jornal, entre vários, o nome de um amigo mais velho com quem fora tantas vezes aos peixes, com quem armara costilhos aos pássaros, com quem fora tomar banho ao rio da sua aldeia em véspera de ir às inspeções. Por cima do nome estava o título do costume – Ao serviço da Pátria – e depreendia-se que morrera por obrigação e que tivera sorte em poder imolar-se por tão nobre causa.

E foi assim que, alguns dias depois do desaparecimento de Simão, sem angústia dos pais ou mágoa visível da mulher, apareceram na aldeia dois senhores a fazer perguntas aos vizinhos, a ameaçar a família e os amigos e a obter declarações em longos interrogatórios no posto da GNR.

Constou-se que estava em França. Em breve chegaram notícias que o confirmara em carta, pois ele, além de saber ler, também sabia escrever e contar, finalidade da Escola Primária cuja instrução levara até ao fim. E só não foi mais longe nos estudos por não terem os pais achado necessário nem útil a quem tinha uma boa casa de lavoura, com uma horta ao pé da casa, campos de cereal, vastos terrenos de pastagens e uma boa quantidade de animais para cuidar.

Os pais nunca frequentaram a escola e, tirando o período da guerra e do racionamento que se lhe seguiu, nunca passaram fome. Para quê ter um filho doutor?

Esteve quase um ano Delfina, privada do homem e de alegria até que conseguiu ir ter com ele.

A aldeia foi esquecendo o casal. Os próprios pais, resignados à separação, pareciam tê-los esquecido também. Poucas foram as notícias que chegaram durante uma longa dúzia de anos.

Entretanto acontecera o 25 de Abril, a guerra de África tinha terminado, aos refratários era consentido o regresso. O País era outro.

Simão e Delfina voltaram à terra num automóvel de luxo numa noite de agosto. Vinham passar férias. Depois da euforia do reencontro, das saudades matadas, das saudações que o prior lhes fizera na missa, em que publicamente agradeceu o donativo para as festas da padroeira, donativo que o número de zeros tornava obsceno, depois de almoços e jantares para que convidaram toda a aldeia, o casal justou uma casa com piscina, comprou todas as propriedades disponíveis quase sem discutir preço, pagou o fogo de artifício para a festa da Senhora das Candeias, teve lugar de destaque na procissão e deu-se a todos os prazeres que o dinheiro pode comprar.

O casal foi muito acarinhado. Ambos demostraram saber ainda o nome das pessoas, não ter esquecido amizades e interessar-se pelos problemas da aldeia. Dispostos a acudir a dificuldades, interessados em dotar a terra com uma creche prometida pelos vários partidos em véspera de eleições e ainda não concretizada, logo fizeram o respetivo donativo em francos franceses que amplamente correspondiam às despesas necessárias e entregaram-no à Junta de Freguesia.

Delfina era verdadeiramente a primeira-dama da aldeia. Elegante no vestir, conservava os traços de beleza da juventude. Luziam-lhe ainda os dentes todos. Não se deixara engordar. Pela anatomia que um vestido de bom corte e discreta transparência deixava adivinhar, via-se que o tempo a poupara mais que o habitual. Parecia dez anos mais nova que as raparigas do seu tempo.

Simão mostrava uma ligeira curva na gravata que passara a usar, adereço que lhe destacava o bom gosto e acentuava o toque de prosperidade que o bafejara. Nem por isso usava qualquer distanciamento para com os seus velhos companheiros de infância. Pelo contrário, o tempo parecia ter robustecido os laços de amizade, a ausência cimentado o afeto, a distância aumentado a simpatia.
Foi numa dessas tardes de verão, na adega do Ezequiel, até então o mais rico da aldeia, colega de escola que ambos lograram concluir em quatro anos, amigo do peito desde sempre, que, depois de alguns copos e confidências várias, Simão revelou a chave do sucesso.

Depois de Ezequiel ter afirmado, por mera intuição, que em França se ganhava muito dinheiro, que a vida devia ter corrido muito bem a Simão, que devia ser possuidor de assinalável fortuna, ao que este anuiu, disparou-lhe:
- Mas em que é que tu ganhaste tanto dinheiro?

Prontamente o amigo o informou, em vernáculo, claro, de que era proprietário de um prostíbulo de homens e outro de mulheres, estabelecimentos que criara e vinha desenvolvendo há longo tempo, depois de uma breve passagem pela construção civil, a dar serventia de pedreiro, nos arredores de Paris.

Surpreendido e elucidado mostrou Ezequiel compreender a razão de tão sólida fortuna. E exclamou:
- Então tu, Simão, nunca tiveste dificuldades em França!

- A princípio…, tive! rematou nostálgico, com ar de quem subiu a vida a pulso, lembrado dos tempos em que era só ele e a mulher.

In Pedras Soltas (2006) – Ortografia atualizada

Era uma vez uma bruta de uma bebedeira.

Uma vez, estava eu numa venda de Viana do Castelo já tinha 18 anos. Foi a última venda onde estive. Estava com uma constipação do catano e de que é que me havia de lembrar.
No fim de jantar bacalhau com grão e batatas vou para o armazém tratar das carroças e ponho-me a beber aguardente queimada com açucar amarelo.
Vou para a cama lá para as onze horas da noite ou mais e adormeci como uma pedra.
O catano foi quando acordei madrugada, vi que me tinha parado a digestão e tinha um monte de vomitado na cama.
Estava lá o grão com bacalhau todo e um cheiro nauseabundo a aguardente que nem te digo nem te conto.
Quem teve de limpar aquela merda toda foi a criada lá de casa. que era aquela mulher que ía cozinhar lá a nosa casa às vezes, a Irene.
Coitada da Irene.
 
Eu também me lembro das corridas às oito da manhã descalço com os pés roxos do frio a partir gelo e ramos por aquele Azarve fora direito à Ferreira e regresso  para às nove horas já estar na escola todo encharcado até ao ossos até à uma hora. e depois ir a Couchel almoçar e a maior parte das vezes era dar uma volta à mesa e voltar pelo mesmo caminho com uma maçanzita ou um bocadito de broa.
 
Tenho tantas saudades. Devias ler o novo livro do teu irmão. Quanto mais não fosse como penitência pelos teus pecados. Mas não to posso enviar. Aquela merda está duma maneira que não se pode imprimir, enviar nem nada só se comprares. por wook custa 3€.
 
Mas olha que eu não tenho dividas de fé nem o caralho mas já o tenho quase lido. É mais literatura tipo readers digest do que o outro. lê-se com mais facilidade e a gente nem repara das saudades do antigamnete e do excelente técnico que ele era que tratava qualquer helicóptero e avião por tu mas não passou de 2º sargento com duas comissões no teatro de guerra e 25 anos de carreira quando os colegas de curso dele chegaram a majores e tenente coroneis..
 
Fim da conversa de chat
 

 

O racismo

Cá não será bem assim? Somos um bocado racistas mas disfarçamos mais olha que na maior parte dos países ocidentais o racismo é mesmo a sério e não disfarçam nem um bocadinho.
Eu estive a trabalhar na Alemanha, França, Bélgica e Holanda e à noite juntavamo-nos quatro ou cinco para irmos beber uma cerveja e havia colegas meus com bigode e cabelo preto que eram impedidos de se sentar por serem confundidos com turcos.
Lá ía eu como era mais claro e tinha bigode louro dizer aos filhos da puta que nós eramos portugueses. Assim até nos convidavam para a mesa deles. Principalmente na Alemanha são uns filhos da puta racistas que nem fazes ideia, mas os outros também. Alemães.franceses, holandeses e belgas e até espanhois, são uma merda como gente. Digo-te eu que já trabalhei com essa canalha toda.
Já trabalhei com polacos, árabes, jugoslavos, paquistaneses, afegãos rusos africanos de vário países, Eu próprio só tive uma pega com um filho da puta francês que era um rafeiro. trabalhador nas obras e mais estúpido que um porco, mas em conversa levou que contar.
Como eu tenho um aspecto mais ocidental não tinha problemas de racismo mas vi muitos colegas terem, mas também à vezes punham-se a jeito. Eram javardos e depois ninguém os respeitava.
Nem imaginas o que é estares na Alemanha na Holanda ou na Suíça e deitares par o chão um maço de tabaco vazio, uma beata, ou escarrares. Havia colegas meus que o faziam sem qualquer problema depois era o caraças. Havia merda. e da grossa.

Renováveis.

10/3/2016

Renováveis ajudam Portugal a bater recorde de exportação de electricidade


A produção hídrica e eólica foram as maiores contribuidoras para a produção de electricidade em Portugal em Fevereiro, no que foi o segundo melhor mês deste século para as renováveis.
 
Nunca Portugal vendeu tanta electricidade ao exterior como em Fevereiro. As exportações eléctricas bateram novo recorde pelo segundo mês consecutivo com o contributo da chuva e do vento.
 
Em Fevereiro foi assim registado um novo recorde de exportação de energia eléctrica (1.081 gigawatts hora (GWh)), o equivalente a cerca de 20% da produção nacional de electricidade.
 
Os dados foram avançados esta quarta-feira, 9 de Março, pela Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN).
 
O aumento das vendas de electricidade ao exterior "devem-se principalmente a condições atmosféricas favoráveis à produção de electricidade de origem hídrica e eólica", diz a APREN.
 
Isto quer dizer que em Fevereiro choveu mais e o vento também soprou mais. A produção hídrica teve a maior contribuição para a produção de electricidade (42%), seguida da eólica (27%).
 
A APREN sublinha que em Fevereiro deste ano, tal como em Fevereiro de 2014, quando a "produção hidroeléctrica foi elevada, a exportação também aumentou".
 
Do total de produção de electricidade em Portugal, a energia renovável contribuiu com 74% da produção total, seguindo-se a produção térmica fóssil, carvão e gás, com 26%.
 
É também de destacar que a produção de energia renovável cobriu 95% do consumo de energia eléctrica em Portugal. Este valor mensal (4.350 GHw) foi o segundo maior do século.
 
O recorde foi atingido em Fevereiro de 2014, quando as renováveis cobriram 97% do consumo de electricidade em Portugal continental. 
 
A produção total de electricidade em Fevereiro atingiu o maior valor dos últimos três anos e foi 17% superior ao ano anterior.  O ano de 2015 foi "hidrologicamente seco", pelo que em Fevereiro do ano passado a energia hídrica tinha pesado 32%, o que acabou por ter "reflexos negativos no nível de importação que foi maior" face a este ano.
 
Na sua análise, a APREN sublinha que em Fevereiro, tal como em Janeiro, o preço médio no mercado ibérico de electricidade foi de 27,35 euros por megawatt hora. 
 
Este valor "relativamente baixo" evidencia a "influência directa da electricidade renovável na redução dos preços do mercado, graças à sua expressiva representatividade, que ascendeu a 95% do consumo".

Jornal de Negócios
 


 
 

 

viadutos de auto-estradas

Eu só me estou a lembrar é das centenas de travessias de ribeiros, canais, ribeiras charcas,etc, etc que são atravessados por aut-estradas e que tem como estrutura esta porcaria de uma chapa de ferro ondulado que está em contacto permanente com a humidade e podre ao fim de meia duzia de anos. Quantos milhões de euros vão ser precisos para reparar tudo isto e substituir por betão todas essa estruturas. Haver culpa há? Foi para economizar? foi desvio de dinheiros? Não acredito que tenha sido incompetência.Os projectos não passam só pela mão de uma pessoa. Não culpem como é costume,o tempo, a zona ser de terras de aluvião, ou outra desculpa esfarrapada como é costume. É o concessionário BRISA que vai pagar? É o construtor Mota Engil ou é a Infraestruturas de Portugal? Seja quem for é do bolso dos portugueses que vai sair a verba e esse é que é cerne da questão.

Carlos Esperança

Foram-se as Indulgências... (Conto) – Texto de fim de semana

Jerónimo Felizardo estava a aliviar do luto a que a perda da amantíssima esposa, Deolinda, o obrigara. Não se pode dizer que lhe fora muito dedicado em vida nem excessivamente fiel. Mas habituara-se a ela como um rafeiro ao dono que o acolhe.

Sentia-lhe agora a falta. Deolinda de Jesus dera-lhe tudo. Mesmo tudo. Até o que é obrigação e nela nunca foi devoção e, muito menos, entusiasmo. Deu-lhe independência económica, boa mesa, respeito e uma filha. Deixou-lhe uma pensão de professora, metade do ordenado do 10.o escalão, que acrescentava a outros proventos e o punham ao abrigo de sobressaltos.

Com a filha não podia contar. Fora para Lisboa frequentar a Universidade Católica, a cujo curso e influência deve hoje o desafogo em que vive e o lugar importante no Ministério. Metera-se no Opus Dei e enjeitou a família. Mesmo a mãe, a quem fora muito chegada, só lhe merecera duas breves visitas nos três anos de doença prolongada com que Deus quis redimi-la do pecado original.

Era natural que substituísse as visitas por orações, que não exigiam deslocações nem hora certa, que haviam de prolongar a vida e o sofrimento, assim Deus a ouvisse. E ouvi-la-ia de certeza porque, além de omnipotente e omnisciente, vinham duma devota fiel à instituição que o Papa amava quase tanto como à bem-aventurada Virgem Maria.

A poucos meses de fazer meio século Jerónimo empanturrava-se de comida que Carolina, afilhada do crisma de D. Deolinda, se esmerava a cozinhar com um desvelo que a filha nunca revelara. Bem sabia que a gula era um pecado capital, mas que a prática e o exemplo eclesiástico largamente tinham despenalizado. Nem mesmo o Prefeito para a Sagrada Congregação da Fé, tão cioso guardião da moral e dos bons costumes, o valorizava demasiado. A gula não é propriamente a luxúria, que é das maiores ofensas feitas a Deus, pecado dos maiores e, de todos, o que mais contribui para a perdição da alma.

Em tudo o mais era Jerónimo um viúvo exemplar. Dera-se à tristeza e à oração. Arrependia-se das vezes em que não cumpriu o dever da desobriga, da frequência escassa à eucaristia, das missas a que faltou, em suma, das obrigações de cristão que não cumpriu com a intensidade, duração e frequência que recomendava a Santa Madre Igreja. Mas, de tudo, o objeto maior de arrependimento era o adultério que cometera e em que, sempre confessado, reincidiu.

Mas isso terminara há muitos anos. A infeliz que seduzira casara e virara fiel ao marido a quem agradecia tê-la recebido canonicamente apesar de saber que já não ia como devia. Conformado, não se importando de ficar com mulher que já não ia inteira, nunca suspeitou de ornamentos de homem casado, sempre julgou que o autor era um antigo namorado que a morte por acidente impediu de reparar a desonra.

Desse pecado se redimira já, pela confissão, penitência e promessa de nunca mais pecar.
Agora, à castidade que se impunha, ao cumprimento dos mandamentos a que se devotara, juntava uma vontade forte de conquistar indulgências nesse ano 2000 do Grande Jubileu.

Bem sabia que as indulgências requerem sempre a confissão sacramental, a comunhão eucarística e a oração pelas intenções do Papa, condições sine qua non para a sua obtenção. Quanto às disposições para a sua aquisição não era difícil cumpri-las. Bastava peregrinar a uma Basílica, Igreja ou Santuário designado para o efeito, e eram várias as opções na diocese, e rezar o Pai-nosso, recitar o Credo em profissão de fé e orar à bem-aventurada Virgem Maria, tarefas de que se desobrigava com prazer e entusiasmo. Mesmo a recomendável contribuição significativa para obras de carácter religioso ou social estava ao seu alcance e não deixaria de fazê-lo.

Embora gozando de excelente saúde e de razoáveis análises nunca é demasiado cedo para o sincero arrependimento e cuidar da alma. Veio a calhar o ano do Grande Jubileu que Sua Santidade avisadamente instituiu nesse Ano da Graça de 2000.

Jerónimo tomou como bênção do Céu ter ficado Carolina a cuidar dele. Antes de se recolher ao quarto rezavam os dois, todos os dias, por D. Deolinda, Esposa e Madrinha, respetivamente, para que a sua alma mais célere entrasse no Paraíso, aliviada das penas do Purgatório.

Passava os meses dedicado à oração, à penitência e à agricultura, outra forma de penitência que alguns teólogos interpretam como a mensagem do anjo do 3.o segredo de Fátima. Disse-me um crente praticante, e não incréu militante, que a penitência que o anjo três vezes pediu era uma forma de exigir dedicação à agricultura, modo de empobrecer e salvar a alma, vacina contra os sectores secundário e terciário onde os homens perdem a fé e a Igreja os fiéis.

No primeiro dia de maio, a seguir ao jantar, horas depois dos comunistas ateus se terem manifestado nas ruas de Lisboa e Porto, enquanto Carolina ficou a arrumar a cozinha, foi Jerónimo ao mês de Maria, ato litúrgico que na sua cidade de província sobreviveu à conversão da Rússia e à consagração do Mundo ao Imaculado Coração de Maria.

À saída da igreja entrou no carro, dirigiu-se à quinta que distava duas léguas da cidade, deu um bocado de conversa ao caseiro e uma olhadela às vitelas, distribuiu-lhes ele próprio um pouco de ração, mandou verificar a pedra que tapava o buraco das galinhas para protegê-las da raposa, deu a bênção aos afilhados, filhos do caseiro, e regressou à cidade onde viveu em vida de D. Deolinda, por vontade dela que detestava a lavoura e o campo, e vivia agora por hábito e fidelidade à memória da falecida.

Ao regressar a casa admirou-se de ver todas as luzes acesas, exceção para o seu quarto que a luz do corredor iluminava discretamente.

Ia entrar em busca da santa Bíblia quando, sobre uma colcha de seda, na cama, deparou com o corpo esbelto de Carolina, esplendorosa escultura de 20 anos à espera de ser percorrida, vestida apenas de penumbra e longos cabelos castanhos esparsos sobre o peito, donde brotavam túmidos mamilos à espera de afago.

O quarto parecia iluminar-se progressivamente. Já uns lábios carnudos se ofereciam sequiosos e um corpo arfava em pulsações rápidas, num incontido furor de ser possuído, numa ânsia insuportável de ser saciado, primícias ávidas em busca de serem saboreadas.
Jerónimo sentiu sobrar-lhe roupa e minguar-lhe a resistência.

Foram-se as indulgências…

In Pedras Soltas (2006) - Ortografia atualizada

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