As Aventuras do Linito/O Acidente do carro de mão
As Aventuras do Linito/O acidente do carro de mão
Foi um acidente rodoviário de grandes dimensões aquele em que o Linito se viu envolvido por volta dos seus três anos de idade.
Junto da casa de caseiros onde vivia com os seus pais e irmãos, na Tapada de Vale de Vaz, havia um declive em rampa com três ou quatro metros de altura e que os irmãos Carlos e Alcides utilzavam para fazer grandes gincanas com os seus camiões feitos de corcódoa, que com os seus poderosos motores roncavam serra acima e serra abaixo, esforçando-se ao máximo para conseguirem vencer as íngremes subidas e descidas carregados de toros de pinheiro para abastecer as fábricas de serração da zona e que eram muitas.
Um dia a mãe mandou-os irem ao pinhal buscar uns cavacos que o pai tinha estado a rachar no cabeço, junto ao monte da pedra e que era preciso trazer para a lareira, para o forno e para o fogão.
Agarraram no carro de mão e num machado e pinhal acima lá foram tratar de cumprir a tarefa dada pela mãe, como não podia deixar de ser com o Linito nos os seus três anos foi atrás deles.
Pinhal acima e com o carro vazio, a tarefa foi fácil e até deu direito a boleia para o pequeno que certamente iria todo contente pelo passeio com os irmãos mais velhos e pela viagem no carro de mão.
Carro de mão carregado, não sei sei com muito ou pouco, passa-se uma corda para segurar a lenha e o machado e trata-se do regresso a casa, cerca de cem metros ou nem tanto.
Como o regresso era sempre a descer e o esforço não era muito, encavalitaram o Linito de novo no carro de mão em cima da lenha e toca a fazerem-se ao caminho.
No declive de que falei atrás e para transitarem os ditos camiões feitos de corcódoa tinham-se construído estradas com a largura de uma mão de través que subiam e desciam como se fossem as estradas da serra da Lousã, então os nossos amigos, fosse qual fosse que trazia o carro de mão, deduzo que fosse o Carlos que era o mais velho, lembrou-se de meter a roda do carro numa dessas estradas, construída para tudo menos para a roda de um carro de mão carregado de lenha, um machado e o Linito em cima.
Com nove anos o Alcides e onze o Carlos, a brincadeira nesse dia correu mal.
Houve uma fratura na estrutura da estrada , a roda do carro de mão deslizou e lá foi o carro de mão, a lenha, o machado e o Linito aos trambolhões pelo declive abaixo.
Resultado: Os prejuízos materias não foram nenhuns mas o Linito ficou com o braço esquerdo feito em três. Uma fractura mesmo em cima do cotovelo não era propriamente uma boa coisa, principalmente para quem vivia no campo e do campo, onde o dinheiro era muito escasso, onde já havia seis filhos, uns para criar, outros para acabar de criar e onde os meios de assistência médica eram praticamente inesistentes.
Cerca de três meses para trás e para diante a caminho do hospital em Coimbra, onde os médicos ou médico atamancou o braço de qualquer maneira e onde depois de ser retirado o gesso se viu que o braço estava deformado, mas nada havia a fazer a não ser partir o braço outra vez para corrigir o defeito ao que a mãe se opôs ferozmente e ainda hoje passados quase setenta anos o Linito tem o braço esquerdo deformado mercê de um sapateiro que se fazia passar por ortopedista pediátrico.
Nada de grave se entender-mos que mesmo assim cumpriu sempre com as misões em que se meteu, casou, foi pai, desempenhou sempre as várias profissões com brio e foi militar onde também sempre desempenhou as tarefas que lhe foram atribuídas.